quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A integração passa pela linguagem (???)

          Conversando com uma amiga brasileira que mora na Itália há alguns anos, nós duas estávamos de acordo que o primeiro passo para a integração em um outro país (e a explicação do nosso "sucesso" nesse sentido) é o domínio da língua. Se mesmo para uma criança a socialização passa pela linguagem (seja ela falada, de sinais, etc.), imagina para um adulto?
          Sempre fui fascinada pela história de Helen Keller, uma americana nascida em 1880 que desde os seus  dois anos de idade era surda, muda e cega. Como apresentar o mundo da linguagem a uma criança com essas restrições? Com a ajuda de Ann Sullivan, que se tornou sua professora, tudo isso foi possível. Não falo de milagre, não! A técnica consistia na utilização da linguagem de sinais, mas como a criança também era cega, ela aprendia pelo tato. Helen Kellen não é a única a ter limitações importantes e ter conseguido vencer seus próprios limites.
          Fiz esse breve relato para dizer que não compreendo porque algumas pessoas não consideram importante aprender a linguagem do país em que vivem. Se a estadia é temporária eu até entendo, pois afinal o investimento (energia, tempo e muitas vezes dinheiro) é muito alto, mas se é para permanecer por um tempo indeterminado, na minha opinião o aprendizado do idioma deveria estar no topo da lista de prioridades.
          (Na minha opinião, sempre), é a linguagem que vai nos permitir de realizar as atividades do quotidiano, como fazer a feira, fazer compras, realizar todas as burocracias administrativas (e aqui na França elas são muitas!), seja pessoalmente, por telefone ou através de cartas! Se a gente não possui um bom nível, podemos acabar dependente dos outros (marido, filhos, etc) e essas atividades simples podem virar um martírio e roubar a nossa autonomia.
         Eh o bom uso da linguagem também que vai interferir no tipo de emprego que vamos ter. Alguém pode contratar um estrangeiro que não fala francês para fazer faxina, mas para um outro tipo de emprego, que exige contato com outras pessoas, telefone e comunicação escrita, aí vai ser difícil. Tem muita gente que trabalha como babá sem falar o idioma, porém eu não contraria uma babá que não fala francês (se eu tivesse filho!) por razões simples: se acontece um problema com a criança, qual vai ser a reatividade dessa pessoa para procurar ajuda? Como ela vai se comunicar com os hospitais, bombeiros, polícia, etc, quando ainda por cima o primeiro contato é por telefone? Como ela vai explicar o problema? Eu não teria confiança (nesse aspecto, que fique bem claro).  
          E como terceiro ponto importante (se não esqueci nenhum) está a socialização. Eh através da língua que teremos contato com locais e pessoas de outras nacionalidades que não apenas a nossa. Tem muita gente que prefere apenas contato com brasileiros, vai da escolha de cada um, mas eu prefiro não viver em guetos e poder me comunicar e enriquecer as minhas relações com pessoas que me interessam, independente da nacionalidade.
(Cécile é de origem coreana e Seko vem do Togo)

          Aqui seguem algumas dicas para aprender francês (que pode ser adaptada a outros idiomas). Não é o único, mas eu gostaria de compartilhar o caminho que utilizei:

1. Quando ainda estava no Brasil, coloquei as lições de francês e músicas em francês no meu mp3 e escutava todos os dias durante o meu trajeto de ida e volta ao trabalho. Isso me permitiu uma boa familiarização com o idioma.

2. Ainda lá, todas as noites assistia ao menos a um filme ou série em versão original francesa ou dublada em francês. Aos poucos eu ia associando as imagens com o discurso e conseguia compreender pelo contexto.

3. Comecei a ler livros infantis em francês, pois são bem simples e permetem enriquecer o vocabulário básico.

4. Já aqui na França, raramente assisti televisão brasileira. Quando ligava a TV, prefiria programas em francês para me adaptar com a linguagem e também com as "personalidades" que passam pela TV. Sempre me senti meio idiota quando alguem falava de alguém famoso, como a Gloria Pires "francesa", e eu nunca tinha ouvido falar da criatura... Ou então mostravam o ministro das finanças, da imigração... Eu não me sentia bem em um país e estar completamente alienada em relação ao contexto político.

5. E se vocês não possuem um excelente professor particular em casa (mesmo que um tantinho exigente), como eu tive a sorte de ter, impossível abrir mão de um curso de francês. O curso vai fornecer a disciplina para quem não a tem e favorecer o ambiente de comunicação em francês.

6. Eu ainda tive a sorte de ser uma devoradora de livros. Leio tudo e qualquer coisa, e desde que cheguei não tive medo de me aventurar a ler tudo em francês.

          Aprender francês é uma tarefa árdua, mas é ao mesmo tempo um combate decisivo para quem vive aqui, em todos os sentidos do verbo viver.

      E o resultado compensa, quando conseguimos vencer o silêncio e podemos traduzir nossos pensamentos em palavras que os outros podem compreender.

13 comentários:

Edward de Souza disse...

Oi Milena!
A felicidade é um bem. Equivale a uma ética de bens e fins. É identificada com a virtude, a sabedoria, o prazer e a prosperidade. É, segundo São Tomás, um bem perfeito de natureza intelectual. Não é simplesmente um estado de alma, mas algo que a alma recebe de fora. É justo, pois, buscar a felicidade. Cabe a nós abrir a porta para que ela entre.

Gostei do seu blog e estou lhe seguindo!

Abçs,

Edward de Souza

Celia na Italia disse...

Milena
Vc tem razão, qdo se está fora de casa, principalmente com tempo indeterminado é muito importante falar o idioma do local.
Boas dicas!
Um abraço

Flávia Shiroma disse...

Oi Milena, muitas vezes não é só a questão de saber a importãncia do idioma, mas também gostar e se identificar com ele.

Por exemplo, se eu tivesse que estudar inglês ou francês, que são idiomas lindos para mim, teria prazer em estudar. Mas, o idioma japonês??? Pra mim não rola. Amo o Japão, mas o idioma daqui não dá. Não gosto mesmo. Mesmo sabendo que seria importante para mim, principalmente na parte de socialização.

Já tentei estudar 2 vezes, me esforcei, mas não rolou.

De qualquer maneira, esse post é muito importante!!! É essencial alertar as pessoas sobre a importância do esforço para se enquadrar o máximo possível na cultura do país onde se vive.

Parabéns!!!

ps.: obrigada pelas palavras de carinho no meu blog!!! Bjs

Flávia Shiroma disse...

Ah, citei o idioma japonês porque moro no Japão há 9 anos e não domino a língua daqui.

Luciene disse...

Miiii vc se inspirou em quem pra fazer esse post, enh? enh? kkkk

Ai é um martirio mesmo nao dominar a lingua do local. Mas eu chego là!
Acho q cada um tem seu tempo, e sua disponibilidade 555 pra pagar um curso ou nao né? mas nao pode se acomodar mesmo... tem q rebolar.
Chato é qndo nao tem com quem praticar, mas isso é outro assunto..

E como a Flavia falou ai em cima, se nao gostar mesmo, parece q bloqueia, nao rola... tem q ao menos querer e gostar, nem q seja um pouquinho rs

Bjao adorei o post.

Mônica disse...

Oi Milene!
Muito interessante o teu texto, e concordo quando você diz que dominar o idioma é uma parte muito importante de integraçao, sem dúvidas ele abre portas e permite vivenciar a cultura de uma outra forma, muito mais intensa.
Gostei!
Beijos
Mônica

Milena F. disse...

Edward, Celia e Monica, obrigada pelo carinho!

Flavia, aprender a lingua japonesa deve ser complicado mesmo, eu via meus colegas japoneses "penando" para aprender francês... A lógica é completamente diferente e é impossível estabelecer relaçéoes entre as duas línguas.

Luciene e ainda Flávia, realmente quando a gente não gosta do idioma tudo é mais difícil, mas será que não é uma barreira que nós mesmos nos colocamos?

Lu, convoca o maridão para meia hora de dialógo em francês por dia! Você vai ver o resultado logo logo e sai bem mais barato que pagar um curso!

Milena F. disse...

Esqueci de confirmar, cada um tem o seu tempo...
E eu não tinha muito tempo não, tinha pressa, se ficasse ilhada em casa sem poder me comunicar acho que enlouqueceria!

Luciene disse...

Esse ano to confiando q vou melhorar muito rsrs...

Vc tb se nao aprendesse o frances logo, nao ia poder se comunicar com o proprio marido rsrs tinha q ter pressa mesmo! E se esforçou bastante.

Eu acho q fiquei meio perdida, apesar de ja saber um pouco frances, mas nao me sinto segura... e me desanimei um pouco.
Mas esse ano vamos ver!!

Bjuuuu

Beth Blue disse...

Eu também acho fundamental aprendere a língua do país onde se mora. Pra mim é questão de sobrevivênvcia mesmo.

E concordo com você: Tem muita gente que prefere apenas contato com brasileiros, vai da escolha de qualquer um, mas eu prefiro não viver em guetos e poder me comunicar e enriquecer as minhas relações com pessoas que me interessam, independente da nacionalidade.

Eu sou igualzinha! Escolho as amizades com base nas afinidades (e afetos) e não na nacionalidade.

Beth Blue disse...

Aprender francês pode ser uma tarefa árdua (eu também falo, pouco por falta de prática mas entendo tudo). Completei um curso na Aliança Francesa do Rio há mais de 20 anos.

Mas falar holandês é mais difícil, eu tive a sorte de sempre mexer com línguas então tive menos dificuldade do que a maioria dos brasileiros por aqui.

Enaldo Soares disse...

Devido à minha formação em História, estudar francês foi uma necessidade para quem pretendia fazer mestrado na área. Os cinco períodos que estudei de Francês na UFJF me foram úteis mesmo quase trinta anos depois. Mas idiomas, inevitavelmente, dependem de vocação.

Natalia Itabayana disse...

Concordo com você. Decidimos nos instalar aqui, e grande parte da adaptação e integração é feita através do idioma. Assisti muita tv no começo porque as aulas começaram três meses depois da minha chegada, e estudei muito sozinha, conversando com o povo na rua, e comecei a ler. Temos nossos amigos franceses, falamos francês 2/3 do dia e assistimos canais franceses, temos nossos programas de tv preferidos e não assinamos Globo internacional, prefiro comprar livros com essa graninha. Depois que entrei pro mestrado e comecei os estagios, minha fluência melhorou muito, e ja consigui inclusive bater boca em francês num pub (do estilo, ficar nervosa mesmo e quase mandar a pessoa pro diabo). O investimento emocional é de suma importância pra consolidar a apropriação do idioma, e os amigos são uma boa forma de ajudar nesse processo.