quinta-feira, 3 de março de 2011

Que lição podemos tirar de Galliano?

          Todo mundo deve estar informado a respeito do escândalo do momento, que envolve o estilista John Galliano (que teria agredido verbalmente uma mulher em um bar com propósitos racistas, pior ainda, anti-semitas, e como se ainda não bastasse, um video caseiro circula pela internet com o costureiro, bêbado, compartilhando idéias nazistas de Hitler). Tudo bem que todo mundo sabia que ele tem uma obsessão pela beleza, ou melhor, um horror do que ele chama "feiúra", mas daí a lançar esse discurso nazista?
          Muitos questões a serem discutidas são levantados desse caso Galliano. Uma delas seria o anti-semitismo que ainda existe em praticamente todo canto do mundo (para não falar de toda intolerância religiosa), mas com um destaque especial para a França que infelizmente teve e parece que ainda tem muito preconceito contra os judeus. Não conheço as estatísticas, mas tenho amigos judeus que vivem em outros países e eles sempre me dizem isso. Não sou especialista em história, mas sou uma apaixonada por essa disciplina e sempre li e me informei muito, principalmente sobre a 2ª Guerra Mundial, e cada vez estou mais convencida de que a França foi muito tolerante com o nazismo, fechando os olhos enquanto judeus estavam sendo massacrados, e inclusive denunciando em massa às autoridades nazistas da época! E ainda por cima, ainda hoje quando entro em uma conversa sobre judeus com franceses, eles em primeiro lugar parecem não saber do que se trata, mas repetem como robôs que "os judeus são extremamente capitalistas, só pensam em dinheiro, fazem de tudo, inclusive passar por cima dos outros para crescer financeiramente, são desonestos e 'mão de vaca' ao extremo". Ainda chichês, mas a gente tem uma idéia do estigma. E ainda sempre citam o conflito Israel X Palestina, com os judeus como principais culpados e violentos. Mas não vou seguir por essa via pois realmente não é um assunto que domino e não é o objetivo do meu tópico.
          Outro ponto que eu não poderia deixar de citar é o brilhantismo de Galliano. Confesso que estou profundamente decepcionada com esse comportamento dele, um ícone da moda, uma pessoa de talento ilimitado e capaz de demonstrar em cada desfile a sua explosão de criatividade.
          Porém onde realmente eu queria chegar é no quanto atitudes e comportamentos podem interferir na carreira profisisonal. Galliano foi imediatamente suspenso após os fatos de suas atividades de diretor de criação para a marca DIOR, e a mesma anunciou recentemente o seu processo de demissão.
         Nas minhas andanças como psicóloga organizacional e gerente de RH sempre defendi a importância de analisar o "perfil psicológico" (ou comportamental, como preferirem) antes de contratar alguém. E para mim a personalidade do profissional é tão ou mesmo mais importante que o seu perfil técnico para o bom desenvolvimento de suas tarefas, para a sua saúde mental e para a "saúde" da empresa, é claro. Conhecendo um pouco do perfil do candidato, podemos  prever potenciais comportamentos que podem estar em desacordo com a empresa ou que mesmo podem vir a causar sofrimento ao profissional. Muitas vezes os PDGs preferem ignorar todos os riscos ao contratar um gênio, mas podem estar equivocados, como bem prova o caso Galliano (como fica a imagem da Dior às vesperas da Fashion Week?) e muitos outros que a gente vê por aí (como o caso da seleção francesa na última Copa do Mundo e o seu Selecionador/ Treinador)
          Só para ilustrar, lembro que não indiquei uma candidata para um determinado cargo pois ela me pareceu muito frágil, com medo "dos homens", e saliento que o problema seria apenas para ESSE cargo, pois justamente ela trabalharia com uma enorme equipe TOTALMENTE masculina. Mas resolveram contratá-la mesmo assim pois minimizaram o problema, acharam frescura estavam precisando e ela tinha um bom perfil técnico, mas já nos primeiros dias começaram os problemas e reclamações da parte dela: ela não suportava os colegas homens, a conversa deles (que só falavam de mulher, sexo, futebol, carro e cerveja), ela não conseguia interagir com ninguém, reclamava que almoçava sozinha (mesmo sendo inicialmente convidada para almoçar com o grupo) e reclamava até mesmo que sentia muito frio, pois os escritórios tinham realmente o ar condicionado bem potente, os rapazes achavam ótimo, mas ela trabalhava com 2 blusões de lã. Ela me ligava todo dia reclamando e dizendo que não aguentava mais, mas eu não poderia mudar uma equipe de 100 pessoas (que funcionava bem) em detrimento de uma pessoa, o que vocês acham? Não demorou muito para ela começar a entrar em atestado (estava todo o tempo doente e não ia trabalhar), até que ela não aguentou mais e pediu demissão.
          Em outro caso, para um grande cliente internacional, eles descobriram que um dos gerentes de projeto estava baixando filmes pela rede da empresa e o mesmo foi demitido na hora, não teve conversa, advertência nem nada. A empresa fortemente engajada na luta contra a pirataria (uma imagem que ela vende no mundo inteiro) preferiu perder um profissional chave de um projeto importante.
          E no dia a dia, cada vez que chegava uma candidata para um cargo em uma empresa formal,  vestida de calça cintura baixa, blusa curta mostrando o umbigo com o piercing, e quando sentava a gente via o fio dental, eu era clara e direta: explicava que se tratava de uma empresa formal, com certas regras vestimentares a respeitar e perguntava se ela estava disposta a seguir essas regras. Se ela vinha com o discurso da liberdade, que o trabalho dela independia da forma como ela se vestia, etc... Ela podia se considerar fora da lista dos candidatos indicados...
          Sinto muito, mas na maioria das empresas não existe tanta liberdade assim e existem sim muitas regras a serem respeitadas... A gente não pode se vestir de qualquer jeito nem dizer o que quer... para o bem e para o mal. Galliano está aí para nos mostrar que mesmo um gênio pode perder seu lugar ao sol.

4 comentários:

Gloria e Rogerio disse...

Olá ,adoramos o seu blog,marvilhoso e estamos seguindo,parabéns.
Rogerio Rinaldi.
Designer de Jóias.
http://sbrincos.blogspot.com
bjs.

Deby-abelha disse...

Concordo com vc Milena. Pode ser um gênio, ter capacidade e experiência, mas não sabe se comportar, acaba com a imagem da empresa... Contrata outra pessoa! Pq uma empresa viver com em storvo desses que só dá problema, não dá.

Hoje em dia o mercado de trabalho tem se tornado cada vez mais dificíl e se nós como profissionais não nos reavaliarmos ou reciclarmos,vamos ficando pra trás.

Achei o post super interessante e sem dúvidas me fez refletir muito e todos os empregos negados depois da primeira entrevista.

Bjs

Milena F. disse...

Muito obrigada Rogério! Vou visitar o seu blog!

Debora, que bom que o post ajudou a pensar, era esse mesmo o objetivo, mas lembrando que muitas vezes o emprego é negado depois na primeira entrevista por N razões (incompatibilidade entre a empresa e o candidato), ou simplesmente porque havia um outro candidato mais qualificado. Infelizmente também porque o candidato mora longe, ou é uma candidata casada sem filhos, logo vai engravidar (hehehe), ou ainda por preconceito de cor, raça, nacionalidade, religião...
Aqui na França me negaram muito emprego na minha cara, pois ao invés de me perguntarem sobre a minha experiência, perguntavam pq decidi ficar na França. Eu respondia que tinha casado e tal, e logo vinha: então para você a vida familiar é mais importante que a carreira? Então vc pode largar tudo se o seu marido resolver mudar de cidade, de país? Para conseguir um emprego tive que mudar o meu discurso.

Margot disse...

ótimo post, concordo 100%.